Surpresa do Magistrado
Empurrada pela dor e o desespero
aquela mulher sofredora venceu a distância e chegou à grande mansão, a fim de
pedir clemência ao homem de negócios.
Com as
mãos trêmulas tocou a campainha e aguardou por alguns minutos.
Uma
serviçal a atendeu prestativa e voltou ao interior da faustosa residência.
Depois de longa espera, o magistrado, a quem a mulher procurava, surgiu à porta.
Ouviu,
com impaciência, a visitante que lhe falou, entre soluços e lágrimas:
Doutor,
peço-lhe caridade. Meu pobre marido não tem culpa. Temos oito filhinhos
passando necessidade. Oito filhos, doutor!
Tenha
piedade e ajude-nos!
O senhor
não ignora que meu pobre companheiro sempre foi um motorista cuidadoso! O homem
estava embriagado quando se jogou contra o carro. Ele não pôde evitar o
acidente, senão o teria feito.
O juiz,
entretanto, olhou-a sem qualquer emoção no olhar frio e indiferente.
Que
deseja a senhora, com semelhante reclamação? Falou
irritado.
Quem
pensa que sou?
Afinal,
justiça é justiça!
Seu
marido foi imprudente, desnaturado. Tenho certeza de que houve premeditação e
por isso sanearei a cidade. Ele servirá de exemplo aos demais motoristas
criminosos, esses profissionais inconscientes!
O
processo foi corretamente conduzido e a justiça provará, hoje, que seu marido é
um homicida como outro qualquer.
Doutor,
compadeça-se de nós! Implorou a infeliz.
Nada mais
tenho a dizer. - Falou, ríspido,
despedindo a pobre mulher.
O doutor
não havia alcançado o interior da casa, quando enorme alvoroço se iniciou na
rua.
Os
populares gritavam em desespero:
Socorro!
Socorro! Peguem o culpado! Peguem o culpado!
A
multidão se agitou na via pública.
Ao lado
de luxuoso automóvel, último modelo, debatia-se um rapaz aprisionado por homens
do povo.
Não muito
longe, estendida na rua, uma criança morta...
A notícia
do desastre se espalhou rápido.
O doutor
inteirou-se do triste acontecimento e caminhou por entre a multidão, pedindo
licença, respeitoso.
O rapaz
era seu filho que, no carro da família, em correria desenfreada, acabara de
atropelar a pequenina indefesa.
A agonia
moral transformou o semblante daquele homem que, agora, trazia no rosto paterno
profunda dor.
Abraçou o
filho com enternecimento de quem se compadece de um louco...
E,
naquele dia, o magistrado não pôde comparecer ao julgamento...
*
* *
A dor
moral é eficiente artesã na arte de cultivar nos corações a compaixão pelo
semelhante.
Ao
visitar nossa alma, deixa sulcos profundos onde germinam as sementes do
verdadeiro amor.
Quando
experimentamos o sabor amargo do sofrimento em nosso próprio ser, brotam em
nossa intimidade as flores da compreensão e da predisposição para o perdão
incondicional.
Redação do Momento Espírita com
base no cap. 27, do livro A vida escreve,
pelo Espírito Hilário Silva, psicografia de Francisco Cândido Xavier
e Waldo Vieira, ed. Feb.
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pelo Espírito Hilário Silva, psicografia de Francisco Cândido Xavier
e Waldo Vieira, ed. Feb.
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