A visita da Verdade
Certa feita, disse o Mestre que só a verdade fará livre o homem; (Jo 8:32) e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:
— Senhor, que é a verdade?
Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:
— A Verdade total é a Luz Divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.
Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o Amigo Celeste meditou alguns minutos e falou:
— Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, demorava-se certo devoto, implorando o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens, não obstante, em sua cegueira, sentir-se o melhor de todos. Reclamava contra o ambiente fétido em que se achava. O ar empestado sufocava-o — dizia ele em gritos comoventes. Pedia uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, aproveitável. Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso? Chorava e bradava, não ocultando aflições e exigências. Que razões o obrigavam a viver naquela atmosfera insuportável?
Notando Nosso Pai que aquele filho formulava súplicas incessantes, entre a revolta e a amargura, profundamente compadecido enviou-lhe a Fé.
A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração.
O infeliz consolou-se, de algum modo, mas, a breve tempo, voltou a lamuriar.
Queria fugir ao monturo e, como se lhe aumentassem as lágrimas, o Todo-Poderoso mandou-lhe a Esperança.
A emissária afagou-lhe a fronte suarenta e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Para isso, rogou-lhe calma, resignação, fortaleza.
O pobre pareceu melhorar, mas, decorridas algumas horas, retomou a lamentação.
Não podia respirar — clamava, em desalento.
Condoído, determinou o Senhor que a Caridade o procurasse.
A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o, endereçando-lhe palavras de carinho, qual se lhe fora abnegada mãe.
Todavia, porque o mísero prosseguisse gritando, revoltado, o Pai Compassivo enviou-lhe a Verdade.
Quando a portadora de esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, então, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo era um conjunto monstruoso de chagas pustulentas da cabeça aos pés e, agora, percebia, espantado, que ele mesmo era o autor da atmosfera intolerável em que vivia. O pobre tremeu cambaleante, e, notando que a Verdade serena lhe abria a porta de libertação, horrorizou-se de si mesmo; sem coragem de cogitar da própria cura, longe de encarar a visitadora, frente a frente, para aprender a limpar-se e purificar-se, fugiu, espavorido, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.
O Mestre fez longa pausa e terminou:
— Assim ocorre com a maioria dos homens, perante a realidade. Sentem-se com direito à recepção de todas as bênçãos do Eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial. Enquanto amparados pela Fé, pela Esperança ou pela Caridade, consolam-se e desconsolam-se, creem e descreem, tímidos, irritadiços e hesitantes; todavia, quando a Verdade brilha diante deles, revelando-lhes a condição em que se encontram, costumam fugir, apressados, em busca de esconderijos tenebrosos, dentro dos quais possam cultivar a ilusão.
***
Em uma ocasião Jesus disse que somente a verdade fará livre o homem.
Acostumemo-nos, pois, à sublime luz da verdade, reconhecendo em nós mesmos as causas de nossas desditas e busquemos, corajosamente, meios de alcançar, de modo definitivo, nossa libertação.
(XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no Lar. Pelo Espírito de Néio Lúcio. A visita da Verdade).
A Verdade
Muito se fala sobre a verdade. Dizem que a verdade sempre aparece, mais cedo ou mais tarde. Nada pode deter a sua marcha, no tempo.
No entanto, alguns de nós, por vezes ficamos a pensar que ela deveria ser mais ágil. Afinal, conhecemos na História da Humanidade, quantas vezes ela foi ofuscada por interesses de poderosos de toda sorte.
Conta-se que quando foi coroado rei da Pérsia, Dario mandou dar uma grande festa para todos os seus súditos, espalhados em cento e vinte e sete províncias.
Terminada a festa, adormeceu, mas foi despertado pelas vozes alteradas de três rapazes que discutiam acerca do que seria a coisa mais forte do mundo.
Em vez de admoestá-los, ficou a escutá-los.
Decidiram que cada um escreveria uma frase dizendo o que era a coisa mais forte e submeteriam ao rei o julgamento.
E assim foi feito. As frases foram entregues ao soberano que, oportunamente, realizou uma convocação de nobres e conselheiros, na sala dos julgamentos.
Foi lida a primeira frase: O vinho é o mais forte.
Aquele que a escrevera, considerou que o vinho tem muita força. Tanta que pode transformar em tolos os homens mais grandiosos.
O rei poderoso e a criança ignorante se igualam sob sua força. Coloca nuvens na memória e torna discussões sem valor porque tudo cai no esquecimento.
A segunda frase dizia: O rei é o mais forte.
A justificativa do autor foi de que o rei tudo manda e é obedecido. Envia soldados para a guerra, condena pessoas à morte ou lhes concede o perdão.
Todos os súditos lhe devem obediência e ele faz o que lhe agrada. É apenas um homem, mas por ele os soldados cruzam montanhas, derrubam muralhas, atacam torres e depois de conquistado o país, lhe trazem o espólio.
A terceira frase afirmava: A verdade é mais forte que todas as coisas.
A defesa da tese foi ardorosa. Disse o jovem:
O rei pode ser perverso, o vinho é perverso. Os homens podem ser maus. Todos eles perecerão. Mas a verdade é eterna.
É sempre forte. Nunca morre. Tampouco é derrotada. Faz o que é justo. Não pode ser corrompida.
Não necessita do respeito das pessoas para existir. É grandiosa e soberana sobre todas as coisas.
E Dario julgou que o terceiro jovem era o mais sábio.
O jovem se chamava Zorobabel. Era um judeu e foi líder do seu povo, na época de seu retorno a Jerusalém do exílio na Babilônia.
Foi um dos reconstrutores do templo em Jerusalém.
* * *
A verdade sempre predomina. A verdade cresce à medida que o ser se desenvolve.
Ela se faz profunda, é sempre atual e enfrenta a razão em todas as épocas com os equipamentos da lógica e da realidade.
A verdade é pão que nutre, medicamento que cura, guia que conduz com equilíbrio.
Jamais fica desconhecida, por maiores sejam os obstáculos que se lhe anteponham.
Escapa a qualquer controle, por ser soberana, e, mesmo quando aparentemente morta, renasce.
Ninguém tem o direito de ocultar a verdade, qual se fosse uma luz que devesse ficar escondida. Onde se encontre, irradia claridade e calor.
Façamos a nossa parte.
Redação do Momento Espírita com base no cap. A verdade vencerá, de Ella Lyman Cabot, de O livro das virtudes, v. I, de William J. Bennett, ed. Nova Fronteira e no cap. Verdade libertadora, do livro Sob a proteção de Deus, por Diversos Espíritos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 2.9.2019.
O que é a verdade?
Contam as lendas que a verdade foi enviada por Deus ao mundo em forma de um gigantesco espelho.
E quando o espelho estava chegando sobre a face da Terra quebrou-se, partiu-se em inumeráveis pedaços que se espalharam por todos os lados.
As pessoas sabiam que a verdade era o espelho, mas não sabiam que ele havia se partido.
E por essa razão, as que encontravam um dos pedaços acreditavam que tinham nas mãos a verdade absoluta, quando, na realidade, possuíam apenas uma pequena parcela.
E quem deterá a verdade absoluta?
A verdade absoluta só Deus a possui e vai revelando ao homem na medida em que este esteja apto para conhecê-la.
Assim é que os inventores, os cientistas, os pesquisadores, vão descobrindo a cada século novas verdades que se acumulam e fomentam o progresso da Humanidade.
É como se fossem juntando os pedaços do grande espelho e conseguissem abranger uma parte maior.
Assim, a verdade é conquistada, graças aos esforços dos homens e não numa revelação bombástica sem proveito para quem a recebe.
Ademais, depois que a verdade é descoberta, ninguém pode encarcerá-la, nem guardá-la só para si.
Quem experimenta o sabor da verdade não mais permanece o mesmo. Toda uma evolução nele se opera e uma transformação radical e libertadora é inevitável.
Por vezes, a nossa cegueira não nos deixa vê-la, mas ela está em toda parte, latente, dentro e fora do mundo e é, muitas vezes, confundida com a ilusão.
Retida na consciência humana, é, a princípio, uma chispa que as forças do autoconhecimento e do autoaperfeiçoamento transformarão em uma estrela fulgurante.
A verdade emancipa a alma e a completa. Infinita, vitaliza o microcosmo e expande-se nas galáxias.
Vibra na molécula, agiganta-se no espaço ilimitado, e encontra-se ao alcance de todos.
É perene e existe desde todos os tempos e sobreviverá ao fim das eras.
A verdade é Deus. E para penetrá-la faz-se necessário diluir-se em amor como os grãos de açúcar em um cálice de água em movimento.
Só agora podemos compreender o motivo pelo qual Jesus calou-Se quando Pilatos lhe perguntou: O que é a verdade?
* * *
A verdade é luz que se expande.
Aquece sem queimar e vivifica sem produzir cansaço.
A meditação facilita-lhe o contato, a oração aproxima o homem da sua matriz e a caridade propicia a vivência com ela.
A humildade abre a porta para que adentre no coração do homem e a fé facilita-lhe a hospedagem nos sentimentos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 7, do livro: A um passo da imortalidade, pelo Espírito Eros, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 05.11.2009.
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